segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dezesseis e vinte e tudo vai.

Há o ato, póstumo. Há o contar. A realidade é um pretexto, insinua o senhor Joaquim Torres Garcia, encantador no produzir imagem, palavra e pensamento. O presente descrito é outro pretexto, desconfio. Sempre é passado, o contado. O teatro das horas ocupa-me em ruas estrangeiras. Ignorância é baú pesado.

Primeiro é o medo. Motor das vibrações no peito, existe. Pontua a vida em silêncio no corpo. É cria da balbúrdia da mente. Ensina, ensina, ensina. Todos os conhecimentos vêm dele, medo. Repete-se a personagem em aturdimento. Quer explicar coisas, dar contas do fazer diário, em tempo próspero e benfazejo.

Último é o medo. Primórdios, mares, ares e amores, rimas e inconstâncias, tudo assusta no presente eterno. A água, em insistência de fonte, confere o ritmo da fala. Tudo é música. Tudo é busca. Tudo é desentendido aqui e agora. Escrever assim, aos trancos, a temer em cada palavra é preciso, é precioso.

sábado, 23 de abril de 2011

Bagagem.

Palavra é nova. Usarei letras imensas, palavras hipérboles, desejos ardências e cruzes pesos. O diário alcança momento. É madrugada. Na ante sala de outro dia de estar.

Palavra é de velho. Voltarei amanhã, disse, e me recolhi. O sono deu em coisas diversas. Plagas, lembranças, vertigens e ares, tudo acontece em sonho. Na manhã, no mesmo disco, gira Maria João.

Palavra é enfiada em mala. Camisa, cueca, echarpe, casaco e casaquinho, de tudo, coisa, cores, manias, todas, vão. Veios vão traçados a doces e farinhas, na manhã de descuido.

Palavra pede o rito. Brota desejo de explicar. Pontudo, ereto, tenso é o tipo do furor do desejo. Curto, por exato, por critério de escolher só o de melhor, escorre em momento, preciso.

Palavra é foice. Já são devidos os cânticos. Pouco importa o que se vai fazer. Danação é o destino de quaisquer coisas. Coisas quebram-se e acabam, qual fossem vidas.

Palavra é tempo. Também isto é de perceber. No rito a anteceder o voo pode-se meditar medidas. Conta-se muitas coisas. Anos, dinheiros, histórias, ossos, vezes em vertigem e eternidades conta-se.

Palavra é pronto. Saíra em instantes, em direções. Aos montes vistos verá. Toda tralha é sempre pronta. Tudo parece querer seguir os moventes. Um viajante existe em verdadeira performance. Está entre muitos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Louca é jornada qualquer.

A comida é para hoje e mais um almoço. Corpo de viagem, qual diria mestre mau, é ora o meu. Diário é império. Primeiro é lavar as panelas. Se feito pode intervalo. Um instantinho para ver retratos. Dada uma olhada também no espelho, firma-se o momento de cortar. Em ritmo certo e contrito é preparado o risoto da noite da paixão. Noite de senhor começa assim. O desejo dirige. E ordena em direções todas muitas.

A casa é uma desordem. Lúdico homem faz iluminador, coreógrafo, figurinista, ator, diretor, cenógrafo e, pasmem, o personagem. É um crítico em crise que num súbito sobe ao palco. Os ensaios são seus dias. Apaixona-se pela personagem e passa a vivê-la em solidão. Pensa em vezes sobre a possibilidade de ter encontrado o autor, doutro século, em uma das formas de comunicação fantástica, como a música, os versos, a física, o fogo e a telepatia.

O corpo é a única testemunha. Quando se acredita, de verdade, na vida antes da morte, é preciso manter-se atento. Convém cantar. Manter em desordem é muito parecido com manter em ordem. Manter parece por vezes necessário. Há momentos de insetos. Luzes acendem-se sem mão humana. Tudo é controlado em distâncias. As máquinas comandam movimentos. Conhecer não nos afasta das coisas. Homem voa, em plano, em dia a vir.

Afiliações.

Sabe-se lá para onde vamos quando criamos situação entorpecida assim. Deus guarde qualquer, quaisquer, um de nós é o próximo. Cada outro é próximo. Assim, de saída, saímos em direção a histórias diversas, perto e longe de espelhos muitos.

Pedras há em parte e lugar completo. Santos há em Índia e em sonhos. Santos há guardados em fundos de gavetas. Gavetas podem deixar de existir. O cansaço é extremo. Chegar a extremo é incrível. Homem entrega-se à devastação.

Faceiro homem comemora o ser músico. Comemora paternidade de gentes e de versos e façanhas repetidas, versos, rimas internas, paragrafação primária e depois o aperfeiçoamento de ser. Antes também é aperfeiçoar tecer. Aeronave é próxima.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cruza o filme.

Alimento é alento. Arroz cateto, maçã desidratada, maracujá ressecado, esfarelados à mão leve descritos em parágrafo gigante, pretende-se mencionar à exaustão. Dá-se no enquanto ao fogo o rango verdadeiro está a passar pela mágica de submeter-se aos efeitos da combustão. O tom é do açafrão em pó. O sal é a generosidade. Dá sempre certo tudo. Lado a lado o corpo ainda vivo do comensal está com os seres metamorfoseados em comida sua. Dele é dever de entender fenômenos e realizar as pequenas, as façanhas.

Decerto algo restou no esquecimento. Pedaços andam despregados no momentâneo histórico. Está-se em santa semana, às margens da paixão. Hoje é de lavar os pés, ouvir as matracas, tirar dos ossos a lembrança, o exato oposto, o sabido pouco a navegar no mar do ignorar. Devemos. Oremos pois. Supliquemos até. Quando for, será preciso. A ideia de o senhor reunir apóstolos seus para afagá-los é da ordem de imensidões. Grande é momento, qual mantra, é bom repetir. Grande, grande, grande é somente o momento. Grande é o grande é o momento.

Uivo posto, choro ouvido, manha vinda de distâncias é parte do tudo. O passado perece, quer permanecer, quer tributar, crer, recriar. Mora em tudo aí também. Eitos, eitas, leitos e tetos há ocupando-se de proteger homem e seus. Vamos fazer uns alívios para o dia melhorar. Há possibilidade de presentear. Dádivas a compartilhar há muitas. Pássaros e motores sonorizam o meio do centro da tarde diamantina. Brilhos avançam. Conta-se as linhas desde certo o ponto da jornada onde um quando aparece e impulsiona os seres a moverem-se, pelo eterno.

Cruz Machado.

Inconfidência.

Vai-se pela casa em desvendamento de gestos. Segue-se em passos breves, passos, passos, ao som seguido, repetido em onda. Maria João, Maria João, Maria João toca os olhos memórias. E mesmo agora, quando flui desde a eletricidade, ortografa-se em erros a insensata história. Encerrado em trança, dissera-se em verso antigo. Repete o autor. Cita-se. Rememora-se em cabeça, tronco e membros, desde as antigas. Não tem para onde ir. O cumprimento do parágrafo assombra. A música é para saltar. E todos decerto saltam. Vírus, moléculas, átomos desconhecidos, células ocultas, seguem longe da possibilidade de qualquer entendimento. Uma dor leve gesta-se. Esperança renova-se. A vida é mesmo profunda. E nobre é a raça enfim guerreira.

Machado é coisa e nome. Faz e diz. Corta e pesa e espanta e serve. Abre fronteira e além. O nome da prosa é oculto. Não adverbiar? O qual significado de cada saída ou chegada é o definitivo? Saber-se-á mesmo quando chegada for a hora? O canto ouvido no tempo modifica a alma. Condutores, conduzidos, condutos, sons por sobre, em dentro, em sendo, adentrando, a ser, a adentrar corpos. Redes telepáticas a vibrar abrem sulcos na tela contemplada. Deuses, ídolos, mágicas desejantes são as energias contidas em homem. Nomear. Nomadizar. Aprender jeito certo, palavra nova, como é bom, como é bom, como é bom tocar instrumentos – exclama-se. Falta uma linha, uma mais só para deixar este trecho. As medidas são amorosas.

Volta-se em instantes. No depois de versos e grandes golfadas de ar, em encantos de trechos, becos, períodos, chapéus marcando momentos, pontuando, grifando, grafitando o enchapelado, seguem os muitos, os seres, os dantes nomeados. Nominar repetir-se sugere haver parar. Pausas e novidades, entremeios e opostos, parentes e premeditados, em premência, brotam em jornada em interno duto. Violeiros, cantores, cozinheiros, desenhadores, pintantes, voadores, velozes, trupe em trechos unida, noutros dispersa, momentânea em trajetos vai para perto de mares. Outono busca buscadores. Inda agora decerto há eterna a fome. Suave é o desejo.

Volteio.

Voltemos. Som na caixa ecoa. O canal de ar do cantor é imenso. O homem é baixo cantante. O tamanho do canal não existe. É extremo jeito de dizer. É jeito extremo de dizer. É dizer de jeito extremo. É um vento o vagante entorno. Decolemos.

Ouçamos. A verdade é pelos compositores expressa. A cantante é, mais e mais, Maria João, no repetir-se em ondas, em fibra ótica, em sonhos. Música é um algo inexistente em infinito fole alado, alçado ao céu desde o solo.

Todo o preparo é para viagem. Todo cuidado é para manter a vida. Todo curso deve de estar traçado em destino, ou não. Em não destino acontece o todo. O pensar circula. O ritmar perpetua. Percepção é crescente na minguante.

Será preciso perceber as vezes da métrica. E pressentir os encontros é preciso, e também precioso e rima, mimo, excesso. As músicas do dia musical são múltiplas. Cantoras e cantores comparecem ao presente. Produz-se um noturno, qual outrora cantara-se um vespertino.

Madruga-se. Nem é preciso dormir. Comer é preciso em sempre de horas certas. Produz-se uma coisarada e música. Conta-se, lembra-se, baixo é o cantante, o cantante é baixo. Frasear é preciso, viver é por bem preciso. Precisão é o exato talento, o buscado.

Buscadores há sobre rodas, bípedes, voadores em máquinas, comedores doutros seres. Há sim. Há o dito, cravado já na fronte, fonte de rimar. Cravada e frondosa é a fonte. Jardins há em todo o reino terrestre. Caminhantes, rodantes, voadores, homens há.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Prólogo e prelúdios.

Aos montes e visões, em estrito senso, pode-se dedicar uma fala. Ouve-se Maria João no mundo. Segue-se logo ali, mesmo dentro do parágrafo, em rumo à cozinha. Ao cozinhar! Ao ouvir intervala-se, inter vagueia-se, devaneiam-se ações com mais e menos atenção. É fluxo. Cantar-se-á em breve outro presente.

Recebida a encomenda. Dá-se a janta. Em momento de fogo, em um nunca brando pontua-se aos pequenos passos, traços, corruptelas, súbitos, em vésperas, em noite dos santos óleos, endoenças, em um dia antes de ser o lava-pés futuro amanhecente. Far-se-á farsa verdadeira, intromissão em casa do alheio com dever de entregar comida e canção.

Antes mesmo do correr do acontecer há repouso. É de precisão agir para permitir o descanso do alimento. Cozedor por igual, já em adornos, quer acreditar possível seguir a distâncias e, então, na verdade do encontro, reler estas notas. Ousadia é plano. No devir, no breve, o instante reveste-se de seu nome próprio e instala-se.

domingo, 17 de abril de 2011

Lá vai memória.

Procura-se documentarista. Antes que seja tarde é preciso por a rodar a historieta. O homem chega à casa ávido por avidez. Em xícara pequena toma dois goles. Canta. Está em vigília. Prepara-se para semana santa. Vem de inventos e cantos. Entre pessoas realizou façanhas. Com elas foi feito. Em si, sente o homem, imprime-se o traço duro, o macio, o bege e o blues. Caminha-se entre as palavras, como dantes na música, como outrora e no demais futuro, no fazer dos afazeres. Há pessoas em contato na noite profunda. Todas elas estão.

Belas palavras – diz o tampinha. Nem exclama. Sussurra em seu porte pouco. Tem fome. Tem sede de vinho. Dá-se o que tem. Tem tudo. Pensa sobre o doutro tempo, o dito antigo, que retorna em nome. Tem, ainda, uma fala confusa. Mesmo assim rabisca em papéis quadriculados e mantém diários virtuais. Avó ensinou-lhe importância de jejum para o aprendizado. Fez um único, o do ensino. Foi antes de sua primeira leitura em voz alta, em público. Agora relembra tanto o acontecido no longínquo quanto o grito. Tudo acontece. E toca o tudo, o que se repete.

Confluências são belas – diz o homem, em início de repouso. Foi preciso caminhar muito antes de assentar aqui e pronunciar. É necessário comer muito para estar a seguir na lida de madrugar. Poucas são já as forças. As falas recortadas curtas são pequenos raios. Convergem para um centro móvel. Buzinas e motores à explosão sonorizam, tanto quanto o resto do som. Música é entre as possíveis possibilidades. Vive-se em prece e pecado. Pecado é prece. O momento explode. Quando vira amanhã o presente deságua, desanda, esfarela, esfacela, escapa.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Caminho.

Nada resta na noite. Ecoa canção estudada. É um princípio de estudos. Palavras residem em cadernos, álbuns e livros residentes na casa. Aprende-se em lentidão. Tudo é afazer. Preparar comida, abrir valas em quintais alagados, dedilhar instrumentos, convergir entendimentos a locais de encontros telepáticos. Escrever sem sujeito, sem verbo e em abuso de elipses, é permitido. A métrica incrementa a prosa e decreta estado de salto.

Notas restam na noite. Repousam tomadas em papéis. É necessário retirar-se para os sonhos. Se em futuro residir, nele ser é sonho. Em futuro o ser é sonho. Voos são permitidos na noite. O feito não é pequeno. Sabe-se histórias, tem-se desejos, cria-se coisas, joga-se fora coisas, inventa-se coisas.  Dias carecem de construção. Artistas, por ora, vão ao descanso. Querem imaginar. Querem vislumbrar o dentro escuro.

Noite resta em manhã de memória. Ensinamentos e perguntas d'outro tempo persistem. Permeiam sabores do agora. Pretende-se seguir na direção dos outros. Pretende-se, em afazeres musicais, culinários, poéticos, tresloucados, tocar gentes desconhecidas. É instante de fabricação de plano. Vive-se em antes do começo. É necessário estudar, perceber motivos ocultos. Livrar-se e observar-se a ser são as tarefas perenes. 
 

sábado, 9 de abril de 2011

Melado.

Dia de oxalá senhor açúcar é hoje. Desde antes do contar já era. O comedor em êxtase come. Mais é mais e mais e mais é desejo sem fim. Diminuir, sabe-se, é o melhor. Aumenta-se. Não se é capaz ainda de evitar no total. Há também diminuição. Coisas mudam-se para o invisível. É no sempre. Não! Não se é ainda capaz para nada.

Mais uma colherada é apertada na boca. Na bocarra eloquente nasce a descrição da coisa. Nem é necessário qualquer verdade. Tomar medidas é preciso. De bom tom revela-se o conhecimento de tamanhos. Intervalos, trastes, tons, palmas, flâmulas a queimar são as coisas partes da noite ininterrupta. O parágrafo acaba no topo.

Dia outro é quando sempre se está no fim. Nas sombras de uma manhã também se pode viver. À espera de mais tarde se é capaz de ficar. Come-se antes e depois de tudo acontecer. O palavrório é afetado por cheia a vir em breve. A crescente segue seu curso. Será possível, afirma-se, pergunta-se, formula-se. Não há, no agora, o saber.