quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dores. Dons.

    Homem foi lá, no longe, como acontece vezes em quando. Cantou lá, esperneou, vibrou, rememorou e esqueceu. Entregou-se lá a afazeres artísticos, atuou, observou, alimentou, dançou, em costumes contrários aos corriqueiros, aos afazeres de seus dias no comum. Na casa de retorno, desaprumou-se o espírito seu. Os caminhos do ar, a cada passagem de ar, puseram-se a arder. Adoeceu. No destino apresentou-se momento de recolher.
    Homem medita motivos, lógicas, confluências, enquanto sorve substâncias diversas, todas destinadas a fazê-lo reencontrar conforto. Prazer é assunto grave; prazer esgota; prazer é ameaça, vai repetindo o homem, recluso, a apreciar o crepúsculo e gozar do entorpecimento, leve, produzido pelos remédios. Medita a dor.
   Quando em caminho, dirigindo-se à oca do xamã moderno, havia alarme: exaustão de músculos, vazamentos de líquidos viscosos pelo nariz, tremores do destempero, em frio, em calor, em arrepios. Onde estavam estes seres ora agindo em mim? É a indagação do homem. E segue, sabendo e não sabendo, acreditando e não acreditando em fato: está vivo.
    Rememora os esforços dos dias de prazer, postados ali, cravados no diário, nas exatas páginas anteriores àquelas onde morarão as lamúrias do engripamento. Gira mundo, gira mundo, gira – proclama o homem, a pressentir-se existindo qual massa de pão em repouso, crescendo, entre uma e outra hora de sovar.

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