sábado, 23 de outubro de 2010

Fragmenta.

Madrugada.
Acorda-se. Volta do longe, do impreciso. A história da noite escapa, escorre junto com o lixo do corpo, pelos canos. Águas seguem para mares, sonhos desaguam em sonhos – pensa. Bebe o café. Come o pão. Engole uma pílula. Lava a cara, lava os dentes, coça-se. Ainda é escuro. Hora de ruídos poucos. Uns pássaros confabulam na vizinhança. Veículos acelerados aproveitam-se das vias livres. Uma dor aguda, pontuda, fina, reside em pequeno trecho, logo ali abaixo do pescoço. É um aviso, sabe-se lá do que.

Manhã.
Assusta-se. Descobriram água na Lua, dizem os jornais. Quem vai beber a água da Lua? Haverá um dono da água da Lua? Pressente.

Tarde.
Procura jeito de fazer chegar uma carta ao rei. Pede calma a todos os homens e mulheres. Manifesta cansaço em meio à violência presente em todas as falas, em tantos atos, em extremos de incompreensão.

Noite. 
Não se deixa tocar. Concebe propósitos. Recolhe-se. Penetra no espaço flexível, no tempo incontado. Em gramado escuro sentam-se todos os personagens do dia. Esforça-se para convencer alguém da necessidade de permanecer em paz.  Segue em trabalhos. 

Madrugada.
Acorda-se. Assusta-se. Na transformação do estado da  luz procura palavras, entendimento, explicação.

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