quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Realirismo.

    Tudo é imagem, disse o moço ali recostado. Trazia os pés um em direção ao outro, sobrepondo-se. Movia as mãos de dedos firmes, acentuando trechos de uma fala forte, brava, consistente. Os frutos de sua inteligência deliciaram os convivas. Assustaram-nos também. Houve quem dissesse ser sua fala – sobre movimentos feitos por agentes da grande rede – um discurso sobre a semiótica do mal. Houve quem manifestasse somente medo diante da evidência de estarmos vigiados, compelidos, organizados, monitorados, envolvidos em complexos sistemas fincados em artefatos – gigantes – tecnológicos.
    Tudo é palavra, pensa o homem, em noite seguinte, a ouvir o som, a ver pelas vias cibernéticas a imagem de Amy Winehouse. Sorve, na casa, uma taça, um vinho da casa. Ouve a moça. Ouve o canto. Está no canto. Pensa: tudo é pensamento. Pensa: tudo não existe; nada não existe; as forças do cheio e do vazio estão. Assim segue a construir imagem, fala, ideia, sentimento, sentido. Um gole, um brinde, uma prece – unidades – ocupam o homem.
    Nisso, inventa: uma palavra, um nome, um entendimento. Real é o apaixonamento. Real é o encantamento. Real é rima, ecoa e vibra, prosaica, em prosa, ao relento.

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