quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Coragem, homem, coragem.

No princípio é o vazio. Logo vem água e nela vem o frio. Tremores e pressões, arrepios, excitação e delírio, em conjunto abstrato, em construto, existem. No meio é o cheio. Do muito dito, do tanto a ser no depois proferido, pouco decerto é aberto ao entendimento.

Procura-se aqui nesta escrivania o exercício. A busca é de expressão. O prêmio é ouvir sinais da existência da comunicação. Todavia não há maneira diferente de narrar senão aquela, a do narrador. Dissimulado, enganador, desconfiado são alguns dos traços da figura.

A situação nesta prosa começa a ficar delicada. Melhor é procurar algum conforto. Melhor é saltar linha. Enlouqueça, oras! Foi o dito pelo curador. É para deixar de lado a razão cerceadora. É para libertar. Formas? Muitas maneiras há de imaginar o mundo.

Escolher é o ofício do homem, é ofício de homem. Deixar as palavras tomarem posse das mãos e segui-las: flores vêm em primeiro plano, no plano divino, no plano. As canções embalam nas noites. Em certas partes das casas sente-se sono.

Pode-se mudar de lado, rearranjar os desarranjos e sonhar, sempre sonhar, sonhar viver para sempre, sempre a sonhar. Pode-se de fato acreditar, leitor amigo, em sua existência. Pois é isto, leitor, o leitor existe. E as histórias ocultas ficam por aí, rondando, querendo direito de existir.

Quando a fala encontrará o ouvido justo? Quando será o fim da dúvida? Melhor deixar das perguntas juvenis. Melhor acreditar no acontecimento, no presente, no fato. A prosseguir em solilóquios as personagens pegam cores de outras, cores do narrador, cores dos lugares das ações.

Temos o verde, o prata, o gris, vermelhos de tintas, sob céu de azul oculto. Amarelas são muitas coisas na casa. Aos poucos a história imaginada derrete. Sobram nós. Agarrados, acabrunhados, os trechos do homem, do descrito, escondem-se. Pronunciam, por médium, mensagens cifradas.

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